Meu Diário
03/08/2010 18h40
Noitinha
Estou aqui, pensando. Olho pela janela de vidro de minha sala e vejo a fábrica a se descortinar à minha frente. Vejo o movimento dos operários. Vejo as pequenas plantas no batente da janela. Vejo o motorista que pega a vassoura e varre o chão da fábrica.
Você deve estar pensando – enquanto todos trabalham, ela está em lazer escrevendo? Negativo! Estou pensando. Sou paga pra pensar. E isto eu sei fazer. Faço bem! Entre outras coisas, mas pensar talvez seja o que faço de melhor.
O Plástico bolha é cortado longitudinalmente p`ra encobrir a máquina que está de partida. A chinesa me chama no skype – quer saber se já pode embarcar as peças.
 
Comecei a escrever este texto há dois meses. Tantas coisas aconteceram neste curto espaço de tempo. Agora são 18:35 e pelo vidro da janela não consigo ver a fábrica. Está às escuras. Todos já foram para casa e aqui continuo, “escrava que sou do trabalho” – escrevi isto há 5 (cinco) anos. E continuo escrava. Meus pensamentos agora são outros. O amor permanece o mesmo. Imutável. Pela mesma pessoal, mas com suavidade. Já não dói. Mas lá está. E lá ficará como eu sempre soube. Lá ficará para sempre. Quem sabe um dia os caminhos sejam retomados. Não sei mais nada. Não há dor, não há tristeza, simplesmente a certeza que para mim, amor não poderia ser por tabela, tinha que ser por inteiro.
 
Mas voltando à minha janela escura. Lá estão os vidros, agora espelhados pelo escuro da fábrica. Só me restam 30 dias. E depois não verei mais estes vidros, estas pessoas. Irei para outro lugar, outra paisagem, outra forma de pensar.
 
Tudo na vida é um eterno renovar.

Publicado por Fátima Batista em 03/08/2010 às 18h40
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