“...Eu é que não me sento
no trono de um apartamento
Com a boca escancarada,
cheia de dentes, esperando a morte chegar
...”
Raul Seixas

Pirita. Isto é ouro de tolo. Mas não é somente o vil metal que tem imitadores. E não é somente com o ouro de tolo que os fracos de alma se enganam.

Vejo por aí gente que se encosta em algum canto, satisfeito com o pouco que tem, feliz porque colocou comida na boca, ou trocou a camisa velha de gola puída por um paletó fora de moda.


Continuo preferindo ter a camisa puída, os pés cansados, a mente ocupada, mas sempre andando em frente em busca de meus sonhos, que sentar e ficar olhando os solados do meu sapato novo com pena de gastá-los.

Prefiro ainda noites solitárias que me prostituir por pouco ou quase nada de amor. Amor que não dará em nada, que em pouco tempo estará gasto e enferrujado. Prefiro a louca paixão, que faz disparar o coração, que traz brilho aos olhos e que formiga a ponta dos dedos a beijos mornos de bocas insossas onde o tempo parou.

Prefiro olhar p’ra lua que começa a ser cheia, embriagar-me com o manto da noite a catar conchinhas que o mar vomitou por pura falta do que fazer, por falta de fantasia e imaginação. Por pura falta de tesão.


Prefiro estar triste e olhar o mundo de frente, que nublar meus olhos, sorrir do alheio, meio sem vontade, ou dar uma alta gargalhada somente para o vizinho pensar que sou feliz. Prefiro ser feliz de verdade, em ínfimos momentos, que passar o dia em lento chocar por medo de olhar para o sol.

Sou muito mais o girassol que passa o dia a girar, queimando suas pétalas sem medo do astro rei, que ser a dama da noite com seu perfume enjoativo, escondida em nebulosas noturnas.

Não busco o pior nem o melhor. Não busco unicidade. Busco pluralidade. Busco o mundo, e que ele venha para minhas mãos, tempestuoso, cheio de suas agruras porque é nisto que consiste a vida. É ai que reside o mistério e o segredo de ser feliz. Não é ouro de tolo que fará brilhar meus olhos!