Textos

Trinta dias escrevendo – terceiro
O que te deixa triste ou negativo

Há alguns dias venho pensando sobre esse tema – O que me deixa triste.

Dizer que a vida da gente é uma felicidade, um céu na terra, é um grande equívoco. Ninguém é cem por cento feliz. Ninguém é cem por cento alegre. Sempre haverá algo que sairá dos eixos, e trará tristeza.

Como não escrevo mensagens de bem viver, deixarei para outros tratarem das questões sobre como ser feliz o tempo todo. Uma vez que isso seja impossível, o mais importante é não mergulhar em profunda tristeza.

E sim, há coisas que me deixam triste. A morte por exemplo. Seja do que for ou de quem for. Acompanho noticiário a tempo demais para saber que a morte nos ronda, tépida e fagueira. Seja por doença, por acidente ou por ações criminosas.

Nesta semana, em São Paulo, acompanhamos a morte de várias pessoas, que por uma razão ou outra, foram provocadas por quem definitivamente não tinha direito algum de fazê-lo. Uma menina que envenena as colegas. Ladrões que entram na casa de um homem de bem e que por alguns trocados lhe dão um tiro na cabeça. Empresários que saem para reuniões de negócios e não voltam para casa. Isso entristece de uma maneira avassaladora. Pretensos seres humanos tirando a vida de outros seres humanos.

Outra morte que me entristece é a de um animal. Principalmente a morte provocada por fome, abandono, descaso e outros motivos vis. Ou a morte de árvores, flores, vegetação rasteira, nossa mata atlântica, nossa Floresta Amazônica.

Durante anos, da minha janela eu observava um Manacá da Serra, em sua fase adulta, a florir. Olhava da janela do quarto, da janela da sala, da janela da cozinha e do terraço. Olhava e aquela imagem rosada melhorava o meu dia. Fazia com que tudo ficasse melhor. Mesmo se não houvesse flores, eu sabia que num futuro próximo elas viriam. E eu esperava ansiosa pelos dias frios do inverno pois era certo que elas lá estariam, a cobrir aquela árvore e alegrar os meus olhos.

Mas em um certo ano elas não apareceram. E pior, as folhas começaram a cair, e galhos secos despontaram para o céu azul do outono. Esperei e observei, e tudo o que aconteceu foi a morte lenta e gradativa daquele Manacá. Não chorei. Não vesti luto, mas cobri-me de tristeza. Era tão bom acordar, olhar pela janela e lá estar, impávido aquele Manacá. Fiquei durante muito tempo acompanhando o lento desaparecer da árvore. Fenecer.

Hoje já não olho mais pela janela. Não há motivo. Não sobrou nada. Só a lembrança de uma bela árvore florida nas manhãs frias de inverno.
Fátima Batista
Enviado por Fátima Batista em 07/06/2025
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